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Pé na estrada pela América do Sul

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Marc André Dämgen deixou a Alemanha há cerca de seis semanas com destino certo: Brasil… mas o prazo da viagem pela América do Sul só Deus saberá dizer.

 

Depois de passar pelo Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, por algumas cidades da Argentina, Marc resolveu que era hora de vir ao Rio Grande do Sul. Chegou em Porto Alegre e lá, na rodoviária, pediu o destino: Salvador do Sul. Aos 28 anos, o alemão deu o ar da graça no Vale do Caí indo em busca das cidades onde há intercâmbio com municípios alemães. Barba grande, cabelos longos, bermuda, camiseta, chinelos havianas e com uma grande mochila nas costas, Marc desceu do ônibus em Salvador do Sul e interpelou a primeira pessoa que viu: Sprechen sie Deutsch? (Tu falas em alemão?). E a resposta, como não é de duvidar, foi afirmativa. Foi até o Apolo XII, lá deixou a sua mochila (que é quase uma casa de tantos pertences que há nela) e deslocou-se até a prefeitura municipal. Identificou-se e foi recebido pela prefeita Carla Maria Specht e pelo secretário da Administração, Adelir Hensel.

 

Como cartão de visita identificou-se como proveniente do Hunsrück e citou o nome de Heribert Dämgen, seu tio, que recebeu a comitiva de Salvador do Sul na cidade cenográfica de Schabbach, onde foi rodado o filme Die Andere Heimat. A reportagem do Jornal Qtal acompanhou a visita à cidade e ouviu os relatos de um jovem formado em Matemática e Química sobre a aventura que deverá ter cerca de 10 meses, pela América do Sul.

 

Ainda maravilhado com as quedas d’água em Foz do Iguaçu, Marc Dämgen, tinha ares de incredulidade ao chegar em Salvador do Sul. Ainda que fale inglês, espanhol e francês, o alemão teve alguma dificuldade de se comunicar no Brasil, isso até chegar no vale do Caí. “Ich bin auf einer deutschen Insel in Brasilien”, dizia repetidas vezes, afirmando estar em uma ilha alemã em meio ao Brasil.

 

A oportunidade de falar em alemão, ainda mais em dialeto Hunsrück, típico da região onde vive a sua família, fez com que Marc se soltasse e contasse as suas histórias. Ao entrar no Super Ertel se deparou com um Jägermeister (uma bebida alcoólica produzida na Alemanha desde 1935) e abriu o sorriso. Fez questão de tirar uma foto junto às pilhas de cerveja para levar junto à Alemanha, onde os seus amigos poderão tirar uma prova de que aqui, nos trópicos, uma cerveja sempre apetece. “Sabia que era quente, mas aqui tá cada dia mais quente”, disse ele, surpreso com a temperatura beirando 35 graus.

 

Depois de conhecer alguns pontos turísticos em Salvador do Sul foi até São Vendelino,  com direito a uma parada na cervejaria Urwald. “Isso sim é cerveja. Lembra muito a que temos na Alemanha. Excelente. As outras, que tomei até agora, são mais fracas”, disse o alemão, conversando em dialeto com Augusto Griebler, que é diretor e mestre cervejeiro da Urwald. Depois dirigiu-se à Feliz, onde provou alguns petiscos no paradouro.

 

“Não dá pra acreditar, estou tomando cerveja de trigo no Brasil”, enquanto observava o parque municipal. Após foi até a casa da família de Bruno Assmann, que lhe deu hospedagem, por três dias. Na manhã de quinta, a primeira na Feliz, escreveu: “Estou feliz na Feliz”, mostrando que já aprendera algo em português.

 

Maravilhado com tudo o que via a sua volta, Dämgen ainda não sabia o destino para os próximos dias, mas garantia estar “em casa” no Vale do Rio Caí.

 

O provável roteiro do mochileiro indica a ida ao Uruguai, com passagem pela capital portenha, para depois ir descendo o continente até a gélida patagônia. “Não me preocupo, tenho roupas mais quentes comigo”, sorriu, lembrando que o frio não será novidade para quem vive na Europa, hoje, tomada pela neve.

 

E assim, de cidade em cidade, achando abrigo em casas de famílias e pequenos hotéis, é que Marc vai tocando a vida. A aventura que mudou as feições do ex-universitário bem trajado a tal maneira que pareça um Robinson Crusoe, seguirá pelo Chile e outros países da América do Sul. “Se o dinheiro que poupei nos últimos dois anos for o bastante vou até a Colômbia e voltarei para casa lá por setembro”, relatou Marc que não teme a distância da família e dos amigos.

 

A sua história bem que renderia um livro, afinal, poucos são aqueles que se aventuram, com a cara e a coragem, por terras desconhecidas, encontrando centenas de novos camaradas que, agora, acompanham a sua saga pelo Facebook, onde ele vai postando fotos e relatos dos mais curiosos.

 

Cidadão do mundo, Marc André Dämgen está feliz e comprova que é possível viver de maneira simples, visitando as maravilhas do planeta que chamamos de Terra.

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