Bom Princípio

Pai das Emancipações vira escritor

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De tanto falar em Pai, Papai ou Papai Noel nas últimas semanas, logo vem à lembrança a figura paterna, aquela que deu origem a nossas famílias. Mas ser pai, no contexto próprio da palavra é muito mais do que dar a vida propriamente dita. Assim, a palavra remete, também, àquele que foi fundamental para dar origem aos municípios.
Conhecido como Pai das Emancipações, Arno Eugênio Carrard, também foi um pouco Papai Noel para os emancipadores, realizando sonhos de milhares de pessoas gaúchas que queriam ver as suas comunidades se transformando em municípios. Assim, Papai Carrard se encaixa bem neste clima de Natal. Mas, de tanto dar presentes, Arno, acabou sendo presenteado no decorrer de 2014, ao receber o convite para se tornar: escritor.
Depois de longa pesquisa feita referente à emancipação dos últimos 30 municípios gaúchos, Arno resolveu aceitar o desafio feito na cidade de Westfália e colocou no papel o histórico desta cidade e a luta pela emancipação. Os projetos emancipatórios muito se assemelham e o livro de Westfália poderá servir de modelo para outros mais.
O Papai Carrard teve o prazer de lançar o seu livro em novembro do mês passado, no dia da proclamação da república, sendo uma data simbólica para Westfália, pela publicação de sua história, e para o próprio escritor, que é um entusiasta das emancipações.
O livro “O Grito Gaúcho Pelas Emancipações – os últimos 30 municípios criados no século XX” pode ser conseguido com o próprio escritor que está orgulhoso com o trabalho realizado e já projeta novos.
Quem é o pai das Emancipações?
Continuando a tradição da família na vida pública, um dos filhos de Armindo Carrard veio a ter importante participação na vida política de Bom Princípio e depois de quase todas as emancipações ocorridas no Rio Grande do Sul depois de 1982.
Arno Eugênio Carrard nasceu em Bom Princípio, no dia 24 de julho de 1943. Aprendeu a ler e escrever aos três anos de idade. Frequentou o Jardim da Infância no Grupo Escolar Bom Princípio (atual Pio XII). Nos três primeiros anos da escola primária ele foi aluno da Escola Paroquial dirigida pelos Irmãos Maristas. Teve ali mestres com alto nível cultural, na sua maioria vindos da França, mas a disciplina era extremamente severa e, para mantê-la, os irmãos professores não hesitavam em usar a vara e à palmatória. No quarto ano primário Arno passou a estudar no Seminário São João Vianney. Como tantos outros garotos de Bom Princípio, ele chegou a sonhar em ser padre. Mas desistiu da ideia e, no ano seguinte, passou a estudar no Grupo Escolar.
Ingressou depois no Ginásio São Sebastião, no Caí, mas fez ali apenas a primeira série do curso ginasial. Por motivos econômicos, foi transferido para o Ginásio Santiago, onde trabalhava para custear os seus estudos. Mas voltou em seguida a estudar no Ginásio São Sebastião, onde concluiu o curso ginasial. Estudava de manhã e, para chegar na escola na hora certa tinha de levantar-se às cinco horas da madrugada. Arno ia para a escola de ônibus, mas não havia ônibus para o retorno, ao meio-dia. Ele, então, voltava a pé. Muitas vezes conseguia uma carona a partir de certo ponto da caminhada. Mas acontecia também dele fazer todo o percurso caminhando. Foi um líder entre os seus colegas ginasianos, com os quais criou um jornalzinho impresso em mimeógrafo, organizou uma olimpíada estudantil e criou a União Caiense de Estudantes. Talvez aí tenha iniciado a sua saga como escritor.
Fez depois o curso clássico, no colégio estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre e, em 1964, ingressou na faculdade de Direito da PUC, também em Porto Alegre. Formou-se em 1968. Participou de concursos de oratória, foi presidente da Academia de Oratória da URGS e, sendo premiado num concurso, ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos. Ele tinha, então, 22 anos e fez estágio de dois meses, na ONU, na OEA e no Centro de Exilados Cubanos.
O fato de seu pai ter sido um líder tão destacado não fez com que a família desfrutasse de situação econômica privilegiada. Para se manter enquanto estudava, Arno sempre precisou trabalhar. Seu primeiro emprego, quando ele era ainda adolescente, foi como ajudante de pedreiro, na construção da casa canônica de Bom Princípio. Em 1961, quando tinha 18 anos e foi estudar em Porto Alegre, ele passou a trabalhar no antigo Sulbanco. Dois anos depois passou a trabalhar na Superintendência do Desenvolvimento Regional do Sul – SUDESUL – já ocupando a função de Secretário do Conselho Deliberativo. O que o pôs em contato com importantes personalidades políticas. Faziam parte do Conselho os governadores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o Ministro do Interior e representantes de todos os demais ministérios. Depois de formar-se em Direito ele se tornou Procurador Federal.
Paralelamente a estas atividades, Arno Carrard sempre se envolveu com a política. Em 1961, logo que chegou a Porto Alegre para estudar, tornou-se secretário da União Gaúcha de Estudantes Secundários e, ao mesmo tempo, presidia o Conselho da Ala Moça do Partido Libertador. Poucos anos depois, na faculdade de Direito, foi secretário do Centro Acadêmico Maurício Cardoso. Quando, no governo militar, os antigos partidos foram extintos e criada a ARENA como partido de sustentação do governo, Arno tornou-se o primeiro presidente da ARENA Jovem estadual, bem como da Comissão Nacional.
Quando foi extinto o bipartidarismo, participou – juntamente com Sinval Guazelli, Luiz Fernando Cirne Lima, Mário Ramos, Clóvis Stenzel e outros – da criação do Partido Popular, que era liderado nacionalmente por Tancredo Neves. Mais tarde o Partido Popular fundiu-se com o PMDB para viabilizar a candidatura de Tancredo Neves a presidente Arno assumiu a secretaria do PMDB gaúcho que era presidido por Pedro Simon e tinha Sinval Guazelli na vice-presidência. Depois de haver comandado o movimento pela emancipação de Bom Princípio nos anos de 1981 e 1982, ele passou a apoiar outros movimentos emancipacionistas que ocorreram no estado resultando na criação de 260 novos municípios entre os anos de 1982 e 1990. Muitos deles criados com a sua participação decisiva. Considera que estas emancipações foram um dos mais importantes fenômenos político-sociais ocorrido no estado no século XX. Elas contribuíram para o desenvolvimento econômico e social das comunidades do interior e frearam o êxodo rural para as grandes metrópoles.
Aposentado em 1995 como Procurador Federal, Arno Carrard se dedica hoje à advocacia, principalmente na área eleitoral. Casado, em 1970, com Liane Veit, tem quatro filhos, todos atuando na área do Direito. A família reside em Porto Alegre mas passa os fins de semana em Bom Princípio, onde também possui residência.
Como emancipador a sua primeira atividade foi a luta pela emancipação de Bom Princípio, que conseguiu com grande êxito. Vieram depois os envolvimentos nas emancipações de todos os municípios do Vale do Caí emancipados após 1982. E esta experiência fez com que fosse advogado em centenas de comunidades que pleiteavam o mesmo. E o êxito foi tanto que ele recebeu incontáveis condecorações como cidadão honorário, mas, agora, como escritor, chega a um novo patamar, sendo o contador oficial das histórias políticas das cidades. Westfália foi alvo do primeiro livro. Outros mais virão.

Arno Carrard lançou seu livro observado pelo prefeito Marasca. (Jornal Antena/Vale do Taquari/Site)

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